Recordações da Casa dos Mortos

 

   As pessoas podem se arrepender e mudar? Alguém que mata, rouba e espanca pode vir a ser uma pessoa boa? Um assassino pode ser alguém bom que cometeu um sério erro? Dostoiévski considera todas essas perguntas no livro que abre sua fase mais genial, Recordações da Casa dos Mortos.

     Neste livro, Dostoiévski narra o período que passou preso na Sibéria, mascarado como um personagem ficcional, o autor narra os eventos que mais lhe marcaram na cadeia.

     O mais incrível em Recordações é a ótima descrição de sentimentos, que nos leva a sentir a agonia dos primeiros anos do protagonista na cadeia, o sentimento de saber que passará anos e anos tendo dias iguais, privado de sua liberdade, sentimos cada momento como se fosse conosco, essa é uma das magias de Dostoiévski, conseguir a empatia do leitor. Mas sem dúvida o que mais me marcou e o que mais me emocionou na obra foi o modo como o escritor descreveu seus companheiros detentos, pois dentre vários homens brutos e mal encarados, encontrou homens profundamente arrependidos de seus atos, homens que sofriam com o medo constante dos guardas, encontrou não animais selvagens na prisão, mas alguns homens injustiçados, vítimas da má sorte, homens que em um momento de raiva ou bebedeira vieram a cometer atrocidades das quais muito se arrependem e, mais do que tudo, encontrou pessoas carentes que anseiam ser respeitados e tratados com dignidade, como se precisassem ser lembrados que ainda podem ser dignos depois dos atos malignos que praticaram, por meio de sutilezas Dostoiévski se aprofunda no arrependimento explícito ou implícito dos detentos que ali se encontram e nos leva ao raciocínio: O que leva alguém a matar? Roubar? Será que todo assassino nasceu sedento de sangue? 

      Recordações da Casa dos Mortos não é apenas um livro incrível, mas o pilar de todas as questões que viriam a ser consideradas em obras como O Idiota, Crime e Castigo e os Irmãos Kamazóv. É um livro obrigatório para quem deseja entender plenamente a bibliografia deste renomado escritor russo.